Certa vez, uma dessas revistas moderninhas disse que as srtas Marlene Dietritch e Coco Chanel eram da "da pá" virada, simplesmente porque numa época em que as donzelas eram mais "frescas" do que nunca, levantavam a bandeira de que a vestimenta masculina migrasse para o guarda-roupa feminino.
Tudo isso é claro tem haver com questões culturais fora o fato histórico da inserção da mulher no mundo, e que as pobres coitadas foram (e ainda são) marginalizadas em áreas ditas como masculinas.
Trazendo tudo isso para mais perto, me pego pintando um stêncil (para quem não sabe, é uma técnica usada para pintura que consiste em fazer o desenho em um molde para depois passá-lo a qualquer superfície) numa camiseta, pois bem, o bendito stêncil trazia os dizeres "L-O-V-E" formando uma moldura que ao centro via-se a imagem de dois homens se abraçando. Numa primeira olhada da minha progenitora, o som que saia de sua boca era: "tu tem que parar com isso!" (sim, tenho uma camiseta com o famoso stencil do BANKSY, com dois policiais se beijando), mas agora paro para pensar e juntar alguns fatos. Começando pelo princípio.
A sociedade vai demorar muito tempo para aceitar que pessoas do mesmo sexo podem se amar; a sociedade ocidental é baseada no falocentrismo e supercultura do homem machão; todo e qualquer tipo de sinal feminino será castigado de alguma forma.
Podemos culpar algo que já está presente antes mesmo de nós nascermos? Preconceito também é inato do ser humano, que rejeita tudo o que lhe parece estranho, diferente.
Antes que isto aqui vire um daqueles programas de testemunho de vida, deixe-me contar só mais um caso:
Numa viagem rápida pela capital amazonense, saio andando pelas ruas do centro de mãos dadas com um (hoje) amigo, e pude constatar que o preconceito se cala mas não totalmente, o olhar de estranheza e repúdio fica brilhante a cada vez que uma coisa dessas parece ser mais normal. Talvez por vergonha ou falta de apoio muitos fingem não perceber e assim passa batido uma cena que pelas costas vem acompanhada de risos abafados e balançar de cabeças. Esta, porém serviu para quebrar o resto de auto-preconceito que restava pela minha
cabeça e aquelas palavras “as pessoas devem ver que é só carinho, como qualquer outro casal” eram verdadeiras e a imagem do proibido e pecaminoso finalmente se extinguiu.
Talvez haja esperança para tudo isso quando aquele ser dito troglodita se tranca num banheiro e inicia seu ritual matinal em meio a cremes e loções caracterizando um autêntico metrossexual, ou quando uma finalmente uma mulher chega à presidência de um país, ou quando pega pesado numa oficina cheia de óleo.
Assim sendo, vejo por entre esses e tantos outros fatos que tal camiseta parece levar à baixo todo um sistema de cultura de um povo e o porque do óbvio se tornar infame. O armário que todos falam em tom de humor nada mais é do que o medo, este internalizado e somente será superado quando mais e mais pás forem viradas.