terça-feira, 20 de maio de 2008

Devaneios: VIRANDO A PÁ

Certa vez, uma dessas revistas moderninhas disse que as srtas Marlene Dietritch e Coco Chanel eram da "da pá" virada, simplesmente porque numa época em que as donzelas eram mais "frescas" do que nunca, levantavam a bandeira de que a vestimenta masculina migrasse para o guarda-roupa feminino.
Tudo isso é claro tem haver com questões culturais fora o fato histórico da inserção da mulher no mundo, e que as pobres coitadas foram (e ainda são) marginalizadas em áreas ditas como masculinas.
Trazendo tudo isso para mais perto, me pego pintando um stêncil (para quem não sabe, é uma técnica usada para pintura que consiste em fazer o desenho em um molde para depois passá-lo a qualquer superfície) numa camiseta, pois bem, o bendito stêncil trazia os dizeres "L-O-V-E" formando uma moldura que ao centro via-se a imagem de dois homens se abraçando. Numa primeira olhada da minha progenitora, o som que saia de sua boca era: "tu tem que parar com isso!" (sim, tenho uma camiseta com o famoso stencil do BANKSY, com dois policiais se beijando), mas agora paro para pensar e juntar alguns fatos. Começando pelo princípio.
A sociedade vai demorar muito tempo para aceitar que pessoas do mesmo sexo podem se amar; a sociedade ocidental é baseada no falocentrismo e supercultura do homem machão; todo e qualquer tipo de sinal feminino será castigado de alguma forma.
Podemos culpar algo que já está presente antes mesmo de nós nascermos? Preconceito também é inato do ser humano, que rejeita tudo o que lhe parece estranho, diferente.
Antes que isto aqui vire um daqueles programas de testemunho de vida, deixe-me contar só mais um caso:
Numa viagem rápida pela capital amazonense, saio andando pelas ruas do centro de mãos dadas com um (hoje) amigo, e pude constatar que o preconceito se cala mas não totalmente, o olhar de estranheza e repúdio fica brilhante a cada vez que uma coisa dessas parece ser mais normal. Talvez por vergonha ou falta de apoio muitos fingem não perceber e assim passa batido uma cena que pelas costas vem acompanhada de risos abafados e balançar de cabeças. Esta, porém serviu para quebrar o resto de auto-preconceito que restava pela minha
cabeça e aquelas palavras “as pessoas devem ver que é só carinho, como qualquer outro casal” eram verdadeiras e a imagem do proibido e pecaminoso finalmente se extinguiu.
Talvez haja esperança para tudo isso quando aquele ser dito troglodita se tranca num banheiro e inicia seu ritual matinal em meio a cremes e loções caracterizando um autêntico metrossexual, ou quando uma finalmente uma mulher chega à presidência de um país, ou quando pega pesado numa oficina cheia de óleo.
Assim sendo, vejo por entre esses e tantos outros fatos que tal camiseta parece levar à baixo todo um sistema de cultura de um povo e o porque do óbvio se tornar infame. O armário que todos falam em tom de humor nada mais é do que o medo, este internalizado e somente será superado quando mais e mais pás forem viradas.

4 comentários:

Anônimo disse...

Até onde der, até onde tiver o que mudar: 'dá pá' virada. o/

Fêh disse...

Belíssimo texto..adorei.
è bem verdade que tudo um dia há de mudar, e percebo que talvez incoscientemente fazemos aquilo que sempre nos disseram "vocês podem mudar isso" mas que sei lá porque nós detentores de tal poder de mudança, sempre acabavamos encalhados no "mas sozinho? não tem como...".

:*

Anônimo disse...

Muito bom o texto, o blog... enfim, ainda bem que tive a oportunidade de te dizer isso pessoalmente!
e que venham mais Intercom's e discussões inteligentes sobre a Blogosfera!

Anônimo disse...

"Cara, tu é muito³ foda". Eu deveria estar apenas parafraseando as principais pessoas que deveriam ler esse texto, mas mesmo que elas lessem acho que não entenderiam, burras demais.

o/