segunda-feira, 30 de junho de 2008

Devaneios: A última noite de Dior

O cheiro que vinha de dentro daquele pequeno frasco quadrado, propositalmente transparente, revelava um líquido de aspecto champagnoise que conferia assim um doce aroma de baunilha e outras notas que somente seus criadores poderiam definir.
A verdade sobre tal fragrância é que foi usada desde o início para marcar e seduzir. Proposito não tão diferente de sua campanha publicitária, aquele moreno de nariz empinado tinha um ar sedutor e apaixonante bem como o produto anunciado. Se foi o perfume, ou a idéia que ele passa às pessoas, nunca saberei mas sempre acabava a noite trocando outras sensações com tipos das mais variadas formas.
Sua última noite foi marcada por dissabores, por coisas que nunca haveria passado antes, era somente eu e o perfume no corpo. Nenhuma alma estranha se aproxima, ninguém repara, seria trágica a despedida de um companheiro como este? Por sorte não, derrepente vejo alguém de olhos fixos se aproximando e num misto de anciedade e aflição ouço aquilo que sempre esperei, atraves de lábios macios e um quente bafo ao pé do ouvido, ecoava uma proposta para o futuro arrancando assim um largo sorriso que perdura até agora. Esse foi o último feito de um amigo de longa data, e desta herança não abro mão.
Como pode um pequeno frasco guardar uma arma tão poderosa, como pode ser vendido assim sem mais nem menos? Certamente nada disso importaria, não fosse o fato do mesmo chegar ao fim. Fica na lembrança noites e noites de badalação, risos, beijos, pessoas, mágoas e alegrias, vai para o lixo somente aquilo que não preciso mais, um pequeno frasco de perfume caro.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Devaneios: VIRANDO A PÁ

Certa vez, uma dessas revistas moderninhas disse que as srtas Marlene Dietritch e Coco Chanel eram da "da pá" virada, simplesmente porque numa época em que as donzelas eram mais "frescas" do que nunca, levantavam a bandeira de que a vestimenta masculina migrasse para o guarda-roupa feminino.
Tudo isso é claro tem haver com questões culturais fora o fato histórico da inserção da mulher no mundo, e que as pobres coitadas foram (e ainda são) marginalizadas em áreas ditas como masculinas.
Trazendo tudo isso para mais perto, me pego pintando um stêncil (para quem não sabe, é uma técnica usada para pintura que consiste em fazer o desenho em um molde para depois passá-lo a qualquer superfície) numa camiseta, pois bem, o bendito stêncil trazia os dizeres "L-O-V-E" formando uma moldura que ao centro via-se a imagem de dois homens se abraçando. Numa primeira olhada da minha progenitora, o som que saia de sua boca era: "tu tem que parar com isso!" (sim, tenho uma camiseta com o famoso stencil do BANKSY, com dois policiais se beijando), mas agora paro para pensar e juntar alguns fatos. Começando pelo princípio.
A sociedade vai demorar muito tempo para aceitar que pessoas do mesmo sexo podem se amar; a sociedade ocidental é baseada no falocentrismo e supercultura do homem machão; todo e qualquer tipo de sinal feminino será castigado de alguma forma.
Podemos culpar algo que já está presente antes mesmo de nós nascermos? Preconceito também é inato do ser humano, que rejeita tudo o que lhe parece estranho, diferente.
Antes que isto aqui vire um daqueles programas de testemunho de vida, deixe-me contar só mais um caso:
Numa viagem rápida pela capital amazonense, saio andando pelas ruas do centro de mãos dadas com um (hoje) amigo, e pude constatar que o preconceito se cala mas não totalmente, o olhar de estranheza e repúdio fica brilhante a cada vez que uma coisa dessas parece ser mais normal. Talvez por vergonha ou falta de apoio muitos fingem não perceber e assim passa batido uma cena que pelas costas vem acompanhada de risos abafados e balançar de cabeças. Esta, porém serviu para quebrar o resto de auto-preconceito que restava pela minha
cabeça e aquelas palavras “as pessoas devem ver que é só carinho, como qualquer outro casal” eram verdadeiras e a imagem do proibido e pecaminoso finalmente se extinguiu.
Talvez haja esperança para tudo isso quando aquele ser dito troglodita se tranca num banheiro e inicia seu ritual matinal em meio a cremes e loções caracterizando um autêntico metrossexual, ou quando uma finalmente uma mulher chega à presidência de um país, ou quando pega pesado numa oficina cheia de óleo.
Assim sendo, vejo por entre esses e tantos outros fatos que tal camiseta parece levar à baixo todo um sistema de cultura de um povo e o porque do óbvio se tornar infame. O armário que todos falam em tom de humor nada mais é do que o medo, este internalizado e somente será superado quando mais e mais pás forem viradas.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Fashion Pills: Black Hommes


Preto não é cor, é um estilo de vida. Frase impactante porém uma breve olhada na história da vestimenta humana nos mostra que desde sempre esta tonalidade está presente, significando as mais variadas expressões culturais ao longo do tempo chegando à status de coisa chique hoje em dia. De fato “preto” como cor somente foi aceito graças à gênios da alta costura como Mademoiselle Coco Chanel e Monsieur Christian Dior, que por um feliz acaso viveram na mesma época e influenciaram toda uma geração com suas fabulosas criações e itens que até hoje se mantém vivos pelos quatro cantos do mundo. Se hoje a mulher têm o direito de ir ao trabalho com um terno preto e básico deve muito a Sra. Chanel que acreditava (graças a Deus) que nada além do preto e branco bastava para gerar um look moderno. Na mesma linha, Dior deu ao mundo pós-guerra as incríveis mulheres flores, devidamente vestindo seu new look em tailleur de blazer branco e saia preta. Muitos outros estilistas renomados usam e abusam dessa cor que certamente é atemporal e perfeitamente usável em quase todas as estações .


Mas e quanto aos homens? Preto é palavra de ordem em qualquer guarda-roupa masculino que se preze, da calça à camisa, do sapato à gravata todos têm uma peça nesta cor. E graças ao buchicho que ronda hoje o vintage e retrô, ele aparece em quase todas novas coleções. Mesmo quem não entende nenhuma virgula de formas e composição de moda sabe quase que por intuição (ou influência da mãe) que a bendita cor emagrece. Hoje temos Hedi Slimane que a pouco tempo deixou a Maison Dior Homme, ele apostou na força da cor para consagrar-se como novo gênio da moda masculina além das propostas pop com pitadas rock, é um nome que deve ser lembrado, mais tarde a maioria dos homens se pegarão vestindo um jeans skinny e sapato bico achatado, camisa listrada e achar a coisa mais normal do mundo (se já não o fazem). Agora qual a dica para não errar no visual (use o espelho e) na dúvida fique com o preto.
Fotos: Google.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Click:


Enquanto o mundo tenta salvar o verde das matas, esquece o cinza da fome.

foto: Nuno Lobito, olhares.com

quarta-feira, 7 de maio de 2008

e-Reviews: Homo Jumentus Televisivus


"Alô, Alô você!
Sim, você que está a ler este blog.
Ligue agora para o número abaixo do seu monitor
e não perca esta incrível oferta de tapetes persa"

Zap

"Olha eu acho que essa questão da falta de ensino é uma coisa que preocupa..."

Zap

"Mas que Baaaaarbaaaridade gente o que fizeram com essa menina que caiu do 8° andar"

Zap

"-Mas que beleza, MAS QUE BELEZA, muito bem dê uma palavrinha aos nossos telespectadores!
Você não era aquele que fez a novela das sete?
-Não, não...eu nunca fiz televisão, nomento estou com outros projetos"

Zap

"Você está demit.."

Desliga.

sábado, 26 de abril de 2008

Devaneios

Versos inversos,
tão perto incertos de alguma alucinação,
Errados mudados, tão cheios de paixão,
Se alguma distância parece pequena,
só aumenta a tentação.
--
Pertubações mentais aflorando rapidamente. Talvez falte alcóol nesta pequena realidade.

Fashion Pills : Adoro Theodora

Quem é Murphy? Não sei, mas ronda um boato pelo mundo sobre uma tal teoria sobre tudo pender para o lado errado. Talvez foi a coisa mais certa que ele já fez. Ruim mesmo é quando temos que passar por poucas e boas para constatar sua veracidade. Assim foi com Rita Wainer, designer de moda com marca própria e hoje comanda a criação de peças para a 2nd Floor (sub-label da Ellus) que aliás, a moça foi descoberta quando a marca ainda era um projeto. O clima caótico em meio a tempestade de sentimentos se encontra perfeitamente com a delicadeza de tecidos leves, resultando em algo moderno e inovador no mundinho fashion..
Ok, Rita é bacana mas o que ela tem haver com o nosso amigo Murphy? Talvez pelo fato de carregar praticamente sozinha uma marca nas costas, num mercado saturado onde qualquer um faz camisetas em suas garagens não é fácil; a jovem estilista teve que enfrentar poucas e boas que o destino a proporcionou. Certa vez se endividou até o pescoço para comprar tecidos de uns orientais que foram devidamente roubados deixando-a sem saída para Semana de Moda. Há poucos dias do evento teve a brilhante idéia de produzir camisetas com frases de impacto (das quais vão aqui as minhas preferidas) como “A Revolução Será Televisionada” e “É Tudo Mentira”, esta última usada no fim desfile como uma “piada interna” na qual só a produção e a designer entenderam. Outra vez os saltos das modelos quebraram e mais uma vez a situação foi contornada, todas levavam os sapatos nas mãos, criando um avant-garde concept, assim Rita e sua Theodora foram aplaudidas.
Graças à tudo isso a estilista ganhou maturidade e foi lançando coleções casa vez mais elaboradas, evidenciando sempre o seu toque pessoal e hoje tem grande visibilidade na 2nd Floor além de desenvolver projetos paralelos, a moça de personalidade fortíssima, dona de Deus o seu gato hoje pode constatar: “Há males que vêm para o bem”.